sábado, 9 de janeiro de 2016

DESAFIO DE TEIXEIRINHA COM GILDO DE FREITAS NO CÉU



Prezado leitor eu quero
Narrar o que aconteceu,
Pois tive um sonho bonito
E que até me comoveu,
Foi quando seu Teixeirinha
Em dezembro faleceu.

Era quatro de dezembro,
No final de oitenta e cinco
Que Teixeirinha morreu
E vou falar com afinco
Da sua chegada ao Céu,
Pois com a morte não brinco.

E chegando ao Reino Eterno,
Viu muitas almas eleitas,
Que viviam lá no Céu
Felizes e satisfeitas,
Mas sua grande emoção
Foi rever Gildo de Freitas.

Gildo revendo o colega
Foi dando o seguinte aviso:
- Teixeirinha vem chegando
Pra viver no paraíso.
E com ele vou fazer
Muitos versos de improviso.

Depois de vários aplausos,
Os cantores se abraçaram
E os anjos de Deus em coro
Diversos hinos cantaram
E no final da festança
Os trovadores trovaram.

Teixeirinha:
Compadre Gildo de Freitas
À tempo que não lhe via,
Agora lhe vejo aqui
Refazendo melodia,
Mas sem estar do meu lado
A mente fica vazia.

Gildo de Freitas:
A mente fica vazia,
Mas sem talento não fico,
Tenho memória de sobra
Pra derrubar um nanico,
Hoje o pobre Teixeirinha
Vai logo pedir penico.

Teixeirinha:
Vai logo pedir penico,
Gaúcho bom não se entrega,
Portanto vou lhe avisar
E preste atenção, colega:
Quero lhe dar uma surra
E lhe esfregar na macega.

Gildo de Freitas:
E lhe esfregar na macega,
Seu verso saiu assim,
Mas coitado do vivente
Que quiser pisar em mim,
Pois antes do sol nascer
Acabo lhe dando um fim.

Teixeirinha:
Acabo lhe dando um fim,
Acho bem difícil isso,
Venho do planeta terra,
Deixei por lá compromisso
Para vir trovar contigo
E terminar o serviço.

Gildo de Freitas:
E terminar o serviço,
Nos olhos tu tens um véu,
Pois não sabes que morreste
E vieste morar no Céu,
Perder pro Gildo de Freitas
Que vai levar o troféu.

Teixeirinha:
Que vai levar o troféu,
Só que seja de palhaço,
Pois outro não tem pra ti
A não ser o seu fracasso,
Trovando com Teixeirinha
Encontra força no braço.

Gildo de Freitas:
Encontra força no braço,
Mas pode crer não desisto.
No Rio Grande a trova existe,
Somente porque eu existo,
Por isso que lá na terra
Diversos fãs eu conquisto.

Teixeirinha:
Diversos fãs eu conquisto,
Na terra também trovei,
Lá no Rio Grande do Sul
Contigo já disputei,
Até fui perdendo a conta
Das trovas que já ganhei.

Gildo de Freitas:
Das trovas que já ganhei,
Ganhaste só de mulher,
De mim tu não ganhas trova
E venha donde vier,
Jamais costumo perder
Para gaúcho qualquer.

Teixeirinha:
Para gaúcho qualquer,
Gaúcho que é bom de rinha,
Em verso agora lhe peço
Não meta com Teixeirinha,
Pois eu trago meu facão
Aqui preso na bainha.



( José Heitor Fonseca e Zeca Pereira)

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